INVENÇÃO DO PÃO
Pão francês, bengala, pão caseiro, pão de cereais,
bisnaguinha, pão sírio, pão doce, pão australiano, pão de forma, pão italiano,
pão integral... O pão é um dos alimentos mais tradicionais em todo o mundo. Para homenagear essa iguaria tão variada, tão popular e tão
consumida, foi criado o Dia Mundial do Pão, celebrado no dia 16 de Outubro.
A história do pão é antiga. Ele teria surgido há mais de 6
mil anos, quando os egípcios descobriram a fermentação do trigo. Ele era
considerado um alimento básico e era um símbolo de poder. Os pães preparados
com trigo de qualidade superior eram destinados apenas aos ricos. Os egípcios
se dedicavam tanto ao pão que se tornaram conhecidos como "comedores de
pão".
"É importante lembrar da importância que o pão tem para
a humanidade. Desde os primórdios, os grãos eram consumidos de forma bruta,
comidos crus. Posteriormente, alguns historiadores falam que, por acidente, os
pães - que eram formados numa pasta mascada na boca, pasta essa feita de mingau
- caíram em cima de uma pedra quente, em uma fogueira e, a partir dali, se
gerou uma massa assada," conta o especialista e historiador sobre pão,
Augusto Cézar de Almeida, que é autor de diversos livros sobre o assunto.
Quando o homem começou a controlar o processo de
fermentação, a técnica de fazer pão se aprimorou e se espalhou pelo mundo.
"No começo da história, tinha muita rejeição àquilo que fermentava porque
dava ideia que estava estragando. Quando se teve controle, com Pasteur [Louis
Pasteur, cientista francês, 1822-1895], que foi um estudioso que conseguiu
controlar e entender o processo fermentativo, essa ação da fermentação passou a
se propagar de forma mais controlada, mais industrial," disse Augusto.
O PÃO NO BRASIL
Augusto conta que o produto chegou ao Brasil por meio dos
portugueses: "Para se ter ideia, o primeiro documento que narra um
brasileiro consumindo pão foi a carta de Pero Vaz de Caminha. Quando as naus
[portuguesas] chegaram em território brasileiro, elas traziam pães. Os índios
então provaram, pela primeira vez, aquilo que era totalmente estranho, que era
o pão. E a reação dos índios não foi lá muito favorável porque eles não estavam
habituados a consumir aquele tipo de produto. Os produtos que se consumiam aqui
eram derivados da mandioca e típicos da região".
Os pães que foram provados pelos índios eram muito rústicos
e, pela longa viagem, provavelmente eram duros também. "Por isso não deve
ter sido muito fácil aceitar", diz Augusto.
Mas com o plantio do trigo, que teria sido iniciado pelas
sementes trazidas por Martim Afonso de Souza [1490-1570], é que o hábito de
comer pão começa a crescer no país. "Ele também era governador da Índia,
muito próxima das regiões árabes, e ele trouxe sementes de trigo para o Brasil.
São duas narrativas que pouco se fala aqui: primeiro, que o pão foi provado
pelos índios nas naus portuguesas. E, segundo, que o trigo foi trazido pelo
Martim Afonso de Souza," conta o historiador.
PADARIAS
No ano passado, havia em todo o país 70.523 padarias,
segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e
Confeitaria (Abip). A maior parte dessas padarias, cerca de 95% do total, são
micro e pequenas empresas familiares.
PÃO FRANCÊS BRASILEIRO
"Debret [1768-1848], um pintor e desenhista francês que
veio junto com a Família Real, fez uma série de ilustrações que falaram sobre
algumas características da época. E uma das gravuras que ele faz é de uma
padaria onde a moagem do trigo era feita dentro dela. Ali se moía e se fazia a
farinha. A narrativa do Debret fala ainda que os pães feitos pelos franceses no
Rio de Janeiro não eram iguais aos da França," contou o historiador.
"A França historicamente tem pães de uma casca mais grossa, feito com
fermentação mais longa. São pães mais compactos. No Brasil, já tivemos o
período dos filões, com densidade maior, mais pesados; e das baguetes, que eram
pães mais parecidos com os da França. Porém não tinham os mesmos componentes e
nem o tipo de fermentação que era feito lá na França".
O pão branco, com um miolo úmido, revestido por uma casca
fina, dourada e levemente crocante, composto por água, farinha de trigo, sal e
fermento, e mais conhecido como pão francês - o nome varia conforme a região do
país -, é o mais consumido pelos brasileiros. Entre os produtos de panificação,
a venda de pão francês corresponde atualmente, segundo a Abip, a 45% do total
comercializado nas padarias.
No entanto, ele vem perdendo espaço para a imensa variedade
de pães que existem hoje: "O pão francês percentualmente está perdendo a
sua importância - não porque está deixando de ser consumido, mas porque outros
tipos de pães estão crescendo no consumo como os integrais ou com
cereais".
"Os primeiros registros com o nome de pão francês são
da época de Debret, na época da Família Real presente no Brasil. Mas entendo
mais isso como o pão francês feito pelos franceses, já que as características
não eram tão iguais assim. Se procurar o pão francês como temos no Brasil, na
França, não vamos encontrar", diz o especialista. Fonte: Diário da Saúde -
16/10/2019
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