Qual
futuro queremos para o Brasil? Países industrializados contam com 2 mil
cientistas por milhão de habitantes, enquanto o Brasil conta com apenas 600. A
China vem fortalecendo sua posição como potência mundial em ciência e
tecnologia, ultrapassando os Estados Unidos em várias áreas e assumindo a
liderança na questão do clima. Coreia do Sul e Cingapura apostaram na tripla
hélice "governo-indústria-universidade" e se tornaram atores e
inovadores mundiais em áreas de fronteira. A Índia conquistou um lugar de destaque
na indústria farmacêutica mundial e, em 2017, quebrou o recorde mundial de
colocação em órbita de múltiplos satélites (107) em um único lançamento.
O
Brasil não pode se contentar com uma posição de destaque no agronegócio ou como
exportador de commodities. As fronteiras do conhecimento avançam a passos
largos, desvendando um novo mundo em que avanços em inteligência artificial,
computação quântica e ciências biomédicas determinarão ganhadores e perdedores,
líderes e liderados, centros de poder e periferia.
A crise
atual já fez grandes estragos em áreas fundamentais para o desenvolvimento
econômico e social. E é nas crises que cumpre sair do imobilismo, preservar o
conquistado e investir em caminhos viáveis. Ao longo de décadas o Brasil
construiu uma invejável rede de instituições de C&T, treinou recursos
humanos de excelência em áreas críticas para seu crescimento e alterou a
Constituição Federal reconhecendo que o desenvolvimento tecnológico é
instrumento para soberania e independência do país (EC 85 2015).
A
atualização da Carta Magna abriu caminho para modernização da arquitetura
jurídica brasileira. O Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação,
modernizou nove leis federais na tentativa de adequar o sistema vigente à
premente necessidade de avanços nestas áreas. Mudanças na Lei de Inovação e de
Licitações reconheceram o inexorável papel do Estado na articulação das redes e
parceiros na promoção do desenvolvimento tecnológico do país.
A
extinção ou esvaziamento dos institutos provocará o maior "brain drain"
["fuga de cérebros", a ida de cientistas para o exterior] da nossa
história, pois serão os cientistas de excelência deste programa que migrarão
para países onde CT&I são reconhecidas como estratégicas. Perderemos nossos
criadores para nos tornarmos criados, mão de obra de economias mais poderosas.
Os INCTs precisam ser vistos como aquelas raras sementes sobreviventes a uma
seca de proporção bíblica: regadas e protegidas, poderão se multiplicar e
prover o alimento indispensável para sobrevivência no mundo de amanhã. Fonte: Inovação
Tecnológica - Carlos Morel (Fiocruz) e Renata Hauegen (UFRJ) - 19/05/2017
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