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domingo, 18 de dezembro de 2016

Diploma inútil?

Milhares de jovens pelo Brasil enfrentam todos os anos o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), prova que pode garantir a entrada deles na universidade. Os estudantes apostam na graduação para começar uma carreira. No entanto, muitos dos que pegam o diploma hoje não conseguem exercer sua profissão.

A culpa não é só da crise econômica, que levou o desemprego a 11,8% no terceiro trimestre deste ano, segundo o IBGE, mas do perfil dos recém-formados. Eles se concentram em poucas áreas e, quando buscam uma vaga, percebem que não há tanto espaço para as mesmas funções.
Essa análise foi feita pelo economista e professor da USP Hélio Zylberstajn, a partir de um cruzamento de dados do Censo do Ensino Superior e da Rais (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério do Trabalho.

Os números de 2014, os mais recentes disponíveis, mostram que
■ 80% dos formandos estudavam em seis ramos: comércio e administração; formação de professor e ciências da educação; saúde; direito; engenharia e computação.
Ao olhar o que faziam os trabalhadores com ensino superior, o professor notou que os cargos não existiam na mesma proporção dos diplomas.
Um bom exemplo é o setor de administração que, em 2014, correspondia a 30% dos concluintes. Apesar da fatia expressiva, apenas 4,9% dos trabalhadores com graduação eram administradores de empresa. Outros 9,4% eram assistentes ou auxiliares administrativos, função que nem sempre exige faculdade.
"As pessoas fazem esses cursos, mas evidentemente não há demanda para tantos advogados ou administradores. Elas acabam sendo são subutilizadas", diz Zylberstajn.
O professor também diz que o número total de graduados seria superior ao que o mercado brasileiro pode suportar. De acordo com o Censo do Ensino Superior, em 2014, um milhão de pessoas saíram das salas de aula. Em 2004, eram 630 mil.

MAIS GENTE NO ENSINO SUPERIOR
MAS O QUE LEVOU ESSE NÚMERO A CRESCER TANTO?

A multiplicação das instituições privadas, ao lado da maior oferta das bolsas do Prouni e do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), facilitaram o acesso dos brasileiros à graduação. De 2000 a 2014, a quantidade de instituições dessa natureza aumentou 15%. Outro fator, dizem os entrevistados, é cultural: no país, a beca é sinônimo de status.
"A gente despreza o técnico e supervaloriza o superior. É uma tradição ibérica. Como por muito tempo foi uma coisa da elite, passou a ser considerado um meio de ascender socialmente", afirma Zylberstajn.
Para a professora Elisabete Adami, da Administração da PUC-SP, esse objetivo está ligado à ideia de que o diploma basta para ganhar mais.

Segundo a diretora do Escritório de Desenvolvimento de Carreiras da USP, Tania Casado, as pesquisas indicam salários maiores para empregos de nível superior. Mas faz uma ressalva: os estudos são feitos com quem já está trabalhando nesses cargos.
"Os dados são verdadeiros, só que é preciso lê-los corretamente. O fato de você fazer uma faculdade não significa que vai para uma vaga desse tipo."

ACEITAR O QUE TIVER
Com tantos professores, administradores e advogados no mercado, muita gente tem dificuldade de conseguir um bom cargo na sua área. Às vezes o jeito é aceitar vagas que pedem apenas ensino médio.

FACULDADE RENOMADA

A falta de experiência e a formação em instituições pouco prestigiadas são os principais empecilhos que os formandos enfrentam nos processos de seleção, diz Luciane Prazeres, coordenadora de Recursos Humanos da agência de empregos Luandre.
Prazeres relata que muitos profissionais chegam no mercado sem ter feito estágio porque precisavam trabalhar para pagar os estudos. E alguma experiência na área é sempre requisitada pelos empregadores.
Segundo ela, é comum que, ao abrir um posto, as empresas peçam candidatos formados em determinada universidade.

Professora na PUC-SP, Elisabete Adami diz notar essa diferença ao ver que seus alunos saem empregados do curso.
"Pega estudantes da PUC, da FGV, do Insper, da USP...eles não estão tão sem trabalho. O pessoal de faculdades de segunda linha não encontra espaço e vai ter que fazer uma pós para complementar a formação."
Para Adami, houve uma proliferação de escolas com menos qualidade, que entregariam profissionais deficientes.

"Esses conglomerados pagam, em média, R$ 17 a hora-aula. Que tipo de professor você vai ter?"
No entanto, pondera, a estrutura ruim não é sempre sinônimo de profissionais mal-preparados. Só que, nesses ambientes, eles são mais frequentes do que em instituições de ponta.
"Sai gente boa, mas por conta própria, porque são esforçados." Entre uma graduação ruim e uma boa formação técnica, diz Adami, ela aposta na segunda. "Essa mania de ser o primeiro da família a se formar é uma ilusão, mas é forte no Brasil. É algo secular. Na França e na Alemanha, você não tem esse percentual de jovens na universidade."

ENSINO TÉCNICO
O ensino técnico é citado pelos entrevistados como uma opção interessante. Hélio Zylberstajn, da USP, diz que o ensino é negligenciado e faz falta para o país. O professor sugere que disciplinas ligadas ao ensino técnico sejam incluídas na grade curricular do ensino médio, e não em institutos, como acontece hoje. "Estamos carentes de técnicos. No ensino médio, deveríamos formar mão de obra em cooperação com as empresas."

Esse tipo de formação é uma possibilidade que deve ser analisada antes da decisão definitiva pelo ensino superior, diz Tania Casado, do Escritório de Desenvolvimento de Carreiras da USP.
"É preciso olhar para o lado e ver que há muitas posições não preenchidas, porque as pessoas não têm estudo específico. Os jovens precisam saber disso ao se lançarem em um curso."
Se a escolha for pelo ensino superior, Casado diz que o estudante não deve conhecer apenas a profissão, mas as ocupações que ela abrange. Um graduado em Medicina, por exemplo, pode tornar-se um gestor de plano de saúde. Da mesma forma, alguém formado em Administração pode tornar-se um consultor.

Além de analisar as alternativas que o mercado oferece, aconselha a diretora, o candidato deve olhar para si e escolher algo com o que se identifique. Se depois quiser mudar de área, a transição não tem que ser dolorosa. Nem sempre uma nova faculdade é necessária, afirma. Às vezes uma especialização ou cursos livres são suficientes.
"Carreira é isto: olhar o entorno e se olhar, o tempo inteiro. E saber que, à medida que você vai evoluindo, pode haver outros interesses, o que é bom. É preciso se preparar para esses interesses, mas não necessariamente isso passa por uma graduação." Fonte: BBC Brasil - 4 novembro 2016

Comentário: O ensino superior no Brasil nada mais é do que um balcão de diplomas, para obtenção de carteira de trabalho. O diploma, virou em muitos casos um objeto de decoração pendurado na parede de desempregados ou subempregados.

Com o diploma na mão o jovem descobre que o mundo empresarial é extremamente competitivo, estressante, admite poucos erros. Alguns jovens descobrirão o autoritarismo de alguns chefes e não estarão preparados para nadar entre tubarões. A função da escola é preparar para vida e não apenas conseguir um diploma ou canudo.  

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