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terça-feira, 2 de agosto de 2016

Propina era custo operacional

No primeiro depoimento à Justiça depois que virou delator da Operação Lava Jato, o ex-presidente do grupo Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, afirmou que o pagamento de propina era visto como "algo natural" dentro da empresa.

"Era um custo comercial", afirmou Azevedo, em audiência realizada nesta quinta-feira (28).

Segundo ele, os custos da propina eram inseridos na composição do orçamento da obra, junto com gastos administrativos, de locação, mão de obra e afins.

Além dos percentuais devidos para agentes da Petrobras, a Andrade Gutierrez afirmou, em delação premiada, que pagava 1% de propina ao PT sobre todos os contratos que tinha com o governo federal -a pedido do então presidente do partido, Ricardo Berzoini.

Foram R$ 40 milhões de propina pagos entre 2008 e 2014, segundo Azevedo, a maior parte feita por meio de doações eleitorais.
"A gente não via de uma maneira criminalizada. Era uma contribuição para um partido político", afirmou Azevedo. "Era um bônus eleitoral; se enquadrava dentro de um processo formal [na empresa]."
Segundo ele, a propina era paga para "manter o status de relacionamento" com o governo federal e evitar problemas –embora o executivo não tenha relatado ameaças ou retaliações.

Azevedo ainda afirma que a empresa se arrependeu. "Sem dúvida, vendo sob a ótica correta, da exigência de uma contribuição, é óbvio que não é certo", disse. "A gente viu que errou. E por isso confessou, e por isso está fazendo um mea culpa público."
A Andrade Gutierrez pagará uma indenização de R$ 1 bilhão, como parte de seu acordo de colaboração.
O PT tem afirmado, em nota, que refuta totalmente as acusações e diz que todas as doações recebidas pelo partido "foram realizadas estritamente dentro dos parâmetros legais e posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral".

INVESTIGAÇÃO

Azevedo também levantou a suspeita, em seu depoimento, de que mais uma fornecedora de campanha do PT tenha sido paga irregularmente pela Andrade Gutierrez, por meio de um contrato de fachada.
Seria um caso semelhante ao da Pepper, agência de comunicação que prestou serviços à campanha de Dilma Rousseff (PT) em 2010.
Os pagamentos à nova empresa, cujo nome não foi revelado, foram feitos nas campanhas de 2010 e 2012. Segundo Azevedo, pode ser "uma questão semelhante à Pepper".
"Nós não temos a conclusão; está sendo analisado contrato, pagamento, serviços que foram feitos", afirmou o executivo. "Porque essa empresa tem histórico de trabalhar para a Andrade com produtos reais. Mas pode ser que surja mais uma." Fonte: Folha de São Paulo - 28/07/2016 

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