Sul-coreanos exportam mais que o dobro
de produtos tecnológicos em relação ao Brasil
Os aumentos nos custos da mão de obra no Japão, na década de 1960, diz Marcos
Troyjo, do Ibmec, empurraram muitos empreendimentos para os países que mais
tarde formariam o bloco conhecido como tigres asiáticos. Segundo ele, esse
processo tornou a indústria sul-coreana especialista em “adaptação criativa”.
Com isso, os sul-coreanos têm um percentual de 29% de produtos de alta
tecnologia (indústria aeroespacial, computadores, farmacêuticos, instrumentos
científicos e maquinário elétrico) nas suas exportações, contra só 11% dos
brasileiros.
—
Essencialmente, eles começaram fazendo versões mais baratas e muitas vezes mais
eficientes de tecnologias existentes, e alcançaram a excelência na exportação
de produtos manufaturados. São os maiores exportadores de bens de capital para
a China. Uma tonelada de produtos exportados do Brasil para a China tem custo
de aproximadamente US$ 60. Já uma tonelada de produtos da Coreia para a China
custa US$ 2 mil. Enquanto isso, o Brasil continua com saudade do século XIX,
quando era possível ter desenvolvimento sustentado apenas por commodities —
explica o especialista.
Após
uma fase em que a indústria nascente teve a proteção de incentivos
governamentais, diz a economista Mônica de Bolle, começou a ocorrer a
transferência de tecnologias, outra deficiência brasileira.
—
Isso só aconteceu, um pouco, no Brasil, na indústria automobilística nos anos
1970 — diz ela. — Uma lição importante, que não estamos aprendendo, é que, para
ser competitivo, é preciso especializar. O Brasil produz um pouco de tudo.
Produção
diversificada, mas com prioridades claras
Segundo
ela, é natural que, pelo tamanho do mercado interno brasileiro, haja uma
produção mais diversificada, mas é preciso definir prioridades.
—
A indústria da Coreia do Sul se desenvolveu a partir de investimento em nichos
como partes, eletrônicos, semicondutores para exportação. A indústria
automobilística e eletrônica ter se fortalecido internamente foi consequência
dessa especialização.
Lembrando
a participação expressiva dos chaebol (grandes conglomerados) na economia
sul-coreana, Troyjo contesta:
—
A presença dos conglomerados multissetoriais é uma das principais
características da economia sul-coreana. É outra coisa que eles aprenderam com
os japoneses. Qual é o core business (principal ramo) da Samsung? Ela tem 86
áreas de negócios. A Hyundai tem supermercados espalhados pelo país, onde você
pode entrar e comprar um frango Hyundai, enquanto aqui nós só os conhecemos
como fabricantes de carros.
Segundo
os especialistas consultados, o ponto negativo deste tipo de desenvolvimento é
o enfraquecimento das pequenas e médias empresas, verificado em ambos os
países. Fonte: O Globo - 09/06/12
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