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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Coronavírus: Um ano de pandemia na Itália

 Com cerca de 16 mil habitantes, Codogno nunca foi uma das cidades mais conhecidas da Itália, mas, há exato um ano, esse pequeno município da Lombardia viu seu cotidiano tranquilo ser chacoalhado por um organismo microscópico.

Era 20 de fevereiro de 2020 quando Mattia Maestri, então com 38 anos, deu entrada no Hospital de Codogno com sintomas de pneumonia. Apesar de o paciente nunca ter viajado à China, a médica Annalisa Malara decidiu submetê-lo a um exame molecular para o temido coronavírus Sars-CoV-2.

O resultado foi anunciado no dia seguinte e confirmou que Maestri (que sobreviveria depois de um mês internado) era o primeiro caso de contágio pelo vírus dentro das fronteiras da Itália, que já havia diagnosticado três casos até então, mas todos eles importados da China.

"É como se tivesse caído um meteorito em nossas cabeças", conta o prefeito de Codogno, Francesco Passerini, em entrevista à ANSA. "No início, pensava inconscientemente que tudo estivesse controlado, sem imaginar que, dali em diante, tudo mudaria", acrescenta.

Apenas em 21 de fevereiro, as autoridades sanitárias da Itália detectaram cerca de 20 casos do Sars-CoV-2, incluindo a esposa e um amigo de Maestri, idosos que frequentavam um restaurante em comum e funcionários e pacientes do Hospital de Codogno.

Ainda tateando em um cenário que se revelaria devastador, o governo decretou lockdown imediato em Codogno e outras nova cidades vizinhas na Lombardia, além de Vo', no Vêneto, que registraria, em 22 de fevereiro, a primeira morte por Covid-19 na Itália.

"Era uma situação estranha, quase incompreensível, mas que tinha todas as características de algo grave, o que me fez fechar imediatamente a nossa cidade para proteger a comunidade", diz Passerini.

O lockdown de Codogno e das cidades vizinhas é até hoje, passado um ano, o regime mais rígido implantado na Itália para conter a pandemia, com toque de recolher válido durante todo o dia e bloqueios do Exército. Esse sistema vigoraria até 8 de março, quando o restante da Lombardia entrou em quarentena, porém sem toque de recolher.

"Agora, felizmente, sabemos mais sobre o vírus e sabemos que é possível vencê-lo, e temos inclusive uma arma a mais, que é a vacina. Queremos vencê-lo em memória daqueles que perderam esta batalha", afirma o prefeito de Codogno.

MORTALIDADE: De acordo com números oficiais do governo, exatas 95.486 pessoas perderam a batalha contra a Covid-19 em um ano de pandemia na Itália.

Isso representa, segundo a Universidade Johns Hopkins, a sexta maior taxa de mortalidade pelo novo coronavírus em todo o mundo, atrás apenas de San Marino (que fica dentro da própria Itália), Bélgica, Eslovênia, Reino Unido e República Tcheca.

A primeira vítima confirmada foi o pedreiro aposentado Adriano Trevisan, de 78 anos, morador de Vo', no Vêneto. Ele faleceu em 21 de fevereiro de 2020, em um hospital de Monselice, no mesmo dia de seu diagnóstico definitivo.

Com 3,3 mil habitantes, Vo' implantou uma estratégia de isolamento e testagem em massa de sua população, o que permitiu identificar rapidamente as pessoas inicialmente infectadas: 89. Com isso, as autoridades conseguiram monitorar doentes e rastrear contatos, ajudando também a entender os mecanismos de disseminação do vírus.

Uma das constatações da experiência - hoje algo já sabido pela comunidade científica - é que assintomáticos também podem transmitir o Sars-CoV-2, já que a maioria das pessoas afetadas não apresentava nenhum sintoma.

"Naquele 21 de fevereiro de um ano atrás, soube da morte do paciente Trevisan enquanto voava para a Austrália. Cheguei lá e peguei um avião para voltar. Passei quatro dias em aviões", conta o professor Andrea Crisanti, diretor de microbiologia e virologia da Universidade de Pádua, que transformou Vo' em um laboratório para entender os mecanismos do novo coronavírus no início da pandemia.

No entanto, segundo ele, a Itália não aprendeu muito com o caso de Vo', e a palavra de ordem para derrotar o Sars-CoV-2 é "rastreamento". "Veja o caso da Nova Zelândia: tiveram 25 casos positivos e fizeram 30 mil testes para rastrear o vírus", afirma. A cidade vêneta perdeu seis moradores para a Covid-19 e hoje contabiliza apenas um infectado.

O primeiro aniversário da morte de Trevisan será lembrado neste domingo com a plantação de uma oliveira em uma rotatória de Vo'.

"Podíamos ter tido muito mais mortes. Aprendemos a importância da distância e do respeito recíproco, e todos os anos recordaremos aquele dia", diz o prefeito Giuliano Martini.Fonte: ANSA- 20 Fev 2021  

COVID 19 – ITÁLIA

22/02/2021

Hospitalizados com sintomas

xx

Unidade de terapia intensiva

xx

Isolamento em casa

xx

Total positivo atualmente

387.903

Liberado / curado

2.818.863

Total de mortes

95.992

Total de casos

2.818.863

Mortes/dia

274

Casos/dia

9.630

Média móvel de casos/semana

12.814

Média móvel de mortes /semana

309

Fonte: Elaborazione e gestione dati a cura del Dipartimento della Protezione Civile- 22/02/2021

China exportou 220 bilhões de máscaras no ano passado

 A China exportou mais de 220 bilhões de máscaras faciais no ano passado,  equivalente a cerca de 40 máscaras por habitante do planeta fora da China, informou o Ministério do Comércio chinês na sexta‑feira (29/01).

A demanda pelo equipamento de proteção disparou durante a pandemia, e a venda de máscaras faciais tornou-se um fator importante para as exportações chinesas depois que a covid-19 impactou de forma negativa a atividade econômica do país no primeiro semestre de 2020.

O vice-ministro de Comércio da China, Qian Keming, afirmou que, além das máscaras, a China exportou 2,3 bilhões de itens de equipamentos de proteção e um bilhão de kits de teste para a covid-19 no ano passado, "fazendo uma contribuição importante para a luta global contra a pandemia".

Apenas as exportações de máscaras representaram 52,6 bilhões de dólares (R$ 286 bilhões), segundo uma autoridade chinesa informou no início do mês.

A China, país onde a covid-19 surgiu no final de 2019, foi também a primeira nação a se recuperar depois de impor lockdows e medidas de controles rigorosos. O país asiático deve ser a única das grandes economias do mundo a registrar crescimento positivo no ano passado, quando o PIB chinês cresceu 2,3%, a menor alta em mais de quatro décadas.

O representante do Ministério do Comércio chinês, Chu Shijia, porém, afirmou na sexta‑feira  que seu país ainda enfrenta um cenário "severo e complexo" em relação ao comércio exterior e aos investimentos neste ano. Fonte: Deutsche Welle -  29.01.2021

Coronavírus: Cinco dias que determinaram o destino da pandemia de covid-19

 Pouco mais de um ano atrás, no dia 23 de janeiro de 2020, o governo chinês decretou lockdown na cidade de Wuhan.

Há semanas as autoridades de saúde chinesas vinham repetindo que o surto causado por uma doença desconhecida estava sob controle — apenas algumas dezenas de casos ligados a um mercado em que eram vendidos animais vivos. Naquele momento, entretanto, o vírus já havia ido além da fronteira da cidade e se espalhado pelo país.

Esta é a história de cinco dias críticos no início do que se tornaria uma pandemia.

Em 30 de dezembro de 2019, muitas pessoas já haviam sido recebidas em hospitais na cidade de Wuhan com sintomas parecidos: febre alta e pneumonia. O primeiro caso de que se tem notícia foi de um homem que tinha por volta de 70 anos, que adoeceu no dia 1º de dezembro.

Naquele momento, muitos dos pacientes estavam direta ou indiretamente ligados ao mercado de peixes Huanan — o que levou os médicos a suspeitarem que poderiam estar observando um outro tipo de pneumonia.

Amostras colhidas do pulmão de pessoas infectadas foram então enviadas a laboratórios de sequenciamento genético para que a causa da doença fosse identificada. Resultados preliminares indicaram, por sua vez, que se tratava de um vírus ainda desconhecido, semelhante ao da Sars. Autoridades de saúde locais e o Centro para Controle de Doenças do país já haviam sido notificados, mas nada havia sido tornado público.

Hoje acredita-se que já houvesse entre 2,3 mil e 4 mil pessoas infectadas, conforme um modelo matemático desenvolvido pelo MOBS Lab, da Northeastern University, em Boston, nos EUA.

Também é provável que o surto estivesse dobrando seu alcance a cada poucos dias. Epidemiologistas dizem que, no estágio inicial de uma epidemia, cada dia e até mesmo cada hora são críticos.

30 DE DEZEMBRO DE 2019: UM ALERTA

Por volta de 16h do dia 30 de dezembro, a chefe da emergência do Hospital Central de Wuhan recebeu os resultados dos testes processados em Pequim pelo laboratório de sequenciamento genético Capital Bio Medicals.

Ela suava frio ao ler o relatório, conforme relatou posteriormente a uma publicação estatal chinesa.

No topo, duas palavras alarmantes: "Sars Coronavírus". Ela as circulou em vermelho e enviou a colegas pelo aplicativo de compartilhamento de mensagens WeChat (semelhante ao WhatsApp).

Em uma hora e meia, a imagem granulada havia chegado ao médico do departamento de oftalmologia do hospital Li Wenliang. Ele a dividiu, por sua vez, com um grupo de colegas da universidade com um aviso: "Não circulem esta mensagem fora deste grupo. Digam a seus familiares e entes queridos que tomem precauções".

Pequim tentou acobertar a epidemia de Sars quando ela inicialmente se espalhou no sul da China entre 2002 e 2003, insistindo que a situação estava sob controle. A resposta, na época, foi bastante criticada pela comunidade internacional e chegou a motivar protestos dentro do país. Entre 2002 e 2004, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) infectou mais de 8 mil pessoas e matou quase 800 pelo mundo.

Nas horas seguintes, imagens da mensagem de Li acabaram se espalhando pela web e milhões de pessoas já falavam sobre Sars na China.

O laboratório de sequenciamento havia, entretanto, cometido um erro — não se tratava da Sars, mas de um novo coronavírus, bastante semelhante. Notícias sobre um possível surto começaram a circular.

O Comitê de Saúde de Wuhan já estava ciente de que havia algo acontecendo nos hospitais da cidade. Naquele dia, funcionários da Comissão Nacional de Saúde chegaram de Pequim e novas amostras foram enviadas a pelo menos cinco laboratórios públicos em Wuhan e Pequim para que fossem sequenciados concomitantemente.

Enquanto mensagens sobre um possível retorno da Sars viralizavam no país, o Comitê de Saúde de Wuhan emitiu ordens aos hospitais instruindo-os a reportar todos os casos diretamente ao órgão e a não darem nenhum tipo de declaração sem autorização prévia.

Em 12 minutos, as ordens até então sigilosas foram vazadas online.

O tempo entre a explosão de comentários nas redes sociais chinesas e a disseminação da notícia no resto do mundo talvez tivesse sido maior, não fosse pela experiente epidemiologista Marjorie Pollack.

Editora da ProMed-mail, newsletter que costuma emitir alertas globais sobre surtos de doenças, ela recebeu um e-mail de um contato em Taiwan perguntando se tinha ouvido algo sobre os rumores que circulavam na internet na China.

Epidemiologista Marjorie Pollack disparou mensagem para uma lista de 80 mil pessoas pedindo informações sobre a doença

Em fevereiro de 2003, a ProMed havia sido o primeiro veículo a dar a notícia ao mundo sobre o primeiro surto de Sars. Agora, Pollack sentia que estava vivendo uma espécie de déjà-vu.

"Minha reação foi: 'Temos um grande problema'", contou à BBC.

Três horas depois, ela havia acabado de escrever um post pedindo a quem pudesse que ajudasse com mais informações sobre o surto. A mensagem foi enviada a aproximadamente 80 mil assinantes faltando um minuto para meia-noite.

31 DE DEZEMBRO: CIENTISTAS OFERECEM AJUDA

À medida que a notícia começou a se espalhar, o professor George F. Gao, diretor-geral do Centro para Controle de Doenças da China, passou a receber ofertas de ajuda vindas dos quatro cantos do mundo.

O país reativou a infraestrutura de combate a doenças infecciosas montada depois da epidemia de Sars — em 2019, Gao havia prometido que o amplo sistema de vigilância chinês seria capaz de antever um episódio como aquele.

Dois dos cientistas que entraram em contato com o professor, entretanto, dizem que o CDC não parecia preocupado.

"Mandei uma mensagem longa a George Gao, me oferecendo para enviar uma equipe para apoiá-lo em tudo o que precisasse", disse à BBC Peter Daszak, presidente do grupo de pesquisa EcoHealth Alliance, baseado em Nova York.

A resposta, contudo, foi breve — apenas para desejar Feliz Ano Novo.

O diretor do Centro de Controle de Doenças na China, George F Gao, foi contactado por cientistas de diferentes países

O epidemiologista Ian Lipkin, professor da Universidade de Columbia, em Nova York, também tentou entrar em contato com Gao — que retornou a ligação quando Lipkin estava jantando, já próximo da meia-noite. O relato sobre a conversa dá contorno ao discurso das autoridades chinesas naquele momento crítico.

"Ele disse que tinha identificado o vírus. Era um novo coronavírus. E não era altamente transmissível. Isso não fazia muito sentido para mim porque já tinha ouvido que muitas, muitas pessoas haviam sido infectadas."

"Não acho que ele estava sendo dúbio, acho que ele estava apenas errado", afirma o epidemiologista.

Para o americano, o colega chinês deveria ter compartilhado naquele momento os sequenciamentos genéticos que já tinha obtido. "Na minha visão, seria preciso divulgar. É algo muito importante para hesitação."

Gao, que recusou os pedidos de entrevista para esta reportagem, declarou à imprensa chinesa que os sequenciamentos foram divulgados assim que possível, e que ele nunca afirmara publicamente que não havia transmissão de humano para humano.

Naquele dia, o Comitê de Saúde de Wuhan publicou um comunicado em que informava sobre 27 casos de pneumonia viral identificados na região, sem evidência clara, entretanto, de que houvesse transmissão entre seres humanos.

Seriam necessários mais 12 dias até que a China compartilhasse o sequenciamento genético do patógeno com a comunidade internacional.

O governo chinês recusou vários pedidos de entrevista da BBC para comentar o assunto. Em posicionamentos enviados por escrito, afirmou que a China "sempre havia agido de forma aberta, transparente, com responsabilidade e celeridade" no combate à covid-19.

1º DE JANEIRO DE 2020: FRUSTRAÇÃO INTERNACIONAL

A lei internacional estipula que surtos de doenças infecciosas que possam gerar preocupação global devem ser reportados à Organização Mundial de Saúde (OMS) em até 24 horas.

No dia 1º de janeiro, entretanto, a OMS ainda não havia sido notificada sobre o que ocorria na China.

No dia anterior, membros da organização haviam visto a publicação da ProMed, além de algumas informações na internet, e resolveram entrar em contato com a Comissão Nacional de Saúde do país.

"Era para ter sido reportado", diz Lawrence Gostin, professor do O'Neill Institute for National and Global Health Law da Universidade de Georgetown, nos EUA, e colaborador da OMS.

"A falha em reportar (o surto) foi claramente uma violação do Regulamento Sanitário Internacional (International Health Regulations)."

A epidemiologista Maria Van Kerkhove, que se tornaria uma das principais líderes técnicas da OMS no combate à pandemia, participou da primeira de muitas reuniões à distância no meio da noite em 1º de janeiro.

"Nós tínhamos uma suspeita inicial de que pudesse ser um novo coronavírus. Para nós, não era uma questão de se havia ou não transmissão de humano para humano, mas qual era a extensão naquele momento e onde estava acontecendo."

Dois dias depois, as autoridades chinesas responderam à OMS. O retorno, entretanto, foi vago — de que haviam sido registrados 44 casos de uma pneumonia viral de causa desconhecida.

A China afirma ter se comunicado regularmente com a OMS a partir do dia 3 de janeiro. Mas registros de reuniões internas da organização obtidas pela agência de notícias Associated Press (AP) e compartilhadas com a BBC mostram uma realidade diferente e revelam a frustração de funcionários de alto escalão da OMS na semana seguinte.

"Dizer que 'não há evidência de transmissão de humano para humano' não é suficiente. Precisamos ver os dados", diz, segundo os registros, Mike Ryan, diretor de emergências da OMS.

A organização era legalmente obrigada a reproduzir as informações fornecidas pela China. Ainda que houvesse suspeita de transmissão entre humanos, a OMS só conseguiria confirmá-la três semanas depois.

"Essas preocupações nunca foram expressas publicamente. Eles apenas reproduziram as informações dadas pela China", diz o repórter da AP Dake Kang.

"No fim do dia, a impressão com que o mundo ficou foi aquela que as autoridades chinesas queriam, de que tudo estava sob controle. E é claro que não estava."

2 DE JANEIRO: MÉDICOS SILENCIADOS

O número de infectados dobrava a cada poucos dias, e cada vez mais pessoas procuravam os hospitais de Wuhan.

Neste momento, em vez de abrir espaço para que os médicos compartilhassem suas preocupações, a imprensa estatal deu início a uma campanha para silenciar os profissionais de saúde.

No dia 2 de janeiro, a emissora estatal Televisão Central da China (CCTV) veiculou uma reportagem sobre os médicos que haviam falado sobre o surto quatro dias antes, retratando-os como "usuários da internet" que haviam "espalhado rumores".

Em seguida, os profissionais foram chamados pela Secretaria de Segurança Pública de Wuhan para prestar depoimento e foram "tratados de acordo com a lei", segundo as autoridades.

Um dos médicos era Li Wenliang, o oftalmologista cujo relato havia viralizado, que chegou a assinar uma confissão. Em fevereiro, ele morreu de covid-19.

O governo chinês afirma que isso não chega a ser indicativo de que estava tentando suprimir as notícias sobre o surto, e que pedia apenas a médicos como Li que não espalhassem informações ainda não confirmadas.

Mas o impacto da postura das autoridades chinesas foi significativo. Enquanto ficava cada vez mais aparente para os médicos que havia, de fato, transmissão entre humanos da doença, eles eram impedidos de se manifestar publicamente.

Um profissional da saúde que trabalhava na mesma unidade que Li, o Hospital Central de Wuhan, disse à reportagem que, nos dias seguintes, "havia muitas pessoas com febre".

"Estava fora de controle. Entramos em pânico, mas o hospital nos disse que não tínhamos autorização para falar com ninguém."

Segundo o governo chinês, "é preciso seguir um rigoroso processo científico para determinar se um vírus pode ser transmitido de pessoa para pessoa".

As autoridades seguiriam afirmando que não havia transmissão entre seres humanos por outros 18 dias.

3 DE JANEIRO: O MEMORANDO SIGILOSO

Laboratórios em todo país estavam em uma corrida contra o tempo para fazer o sequenciamento completo do genoma do vírus. Entre eles, estava um renomado virologista de Xangai, Zhang Yongzhen, que começou o sequenciamento no dia 3 de janeiro.

Depois de trabalhar por dois dias consecutivos, ele obteve um genoma completo. Os resultados revelavam um vírus semelhante ao da Sars e, portanto, provavelmente transmissível.

O virologista Zhang Yongzhen colocaria fim ao impasse sobre o sequenciamento do genoma do vírus

No dia 5 de janeiro, o escritório de Zhang escreveu à Comissão Nacional de Saúde recomendando a tomada de medidas de precaução em espaços públicos.

"Naquele mesmo dia, ele estava trabalhando para ter os dados prontos assim que possível, para que o resto do mundo pudesse saber do que se tratava e avançássemos no diagnóstico", afirma Edward Holmes, virologista e biólogo evolutivo da Universidade de Sidney, na Austrália, que trabalha com Zhang.

Mas Zhang não conseguia tornar seus achados públicos. No dia 3 de janeiro, a Comissão Nacional de Saúde havia enviado um memorando sigiloso aos laboratórios proibindo que cientistas sem autorização analisassem o vírus e divulgassem informações.

"Isso acabou silenciando cientistas e laboratórios, que não puderam investigar o vírus — sob o risco de que suas análises vazassem para o mundo externo e alarmassem as pessoas", diz o jornalista da AP Dake Kang.

Nenhum laboratório veio a público anunciar o sequenciamento do genoma do vírus. As autoridades continuaram afirmando que se tratava de uma pneumonia viral sem evidência clara de transmissão entre humanos.

Apenas seis dias depois, divulgariam que o patógeno era um novo coronavírus e, mesmo naquele momento, não compartilhariam nenhum sequenciamento genético — o que impediu que outros países analisassem os dados e pudessem começar a mapear a disseminação do vírus em seus territórios.

Da Austrália, o virologista Edward Holmes ajudaria Zhang a divulgar para o mundo o genoma do novo coronavírus

Três dias depois, em 11 de janeiro, Zhang toma uma decisão que o coloca em risco, mas acaba pondo um fim no impasse. Enquanto embarcava em um voo entre Pequim e Xangai, ele autoriza o colega australiano Edward Holmes a divulgar o sequenciamento que havia feito.

No dia seguinte, o laboratório de Zhang foi fechado para "retificação" — mas, a partir daquele momento, outros cientistas também decidiriam tornar públicos seus achados.

A comunidade científica internacional entrou em ação, e um kit para teste de diagnóstico estaria pronto no dia 13 de janeiro.

Apesar das evidências coletadas por médicos e cientistas, a China não confirmaria que havia de fato transmissão entre humanos da doença até o dia 20 de janeiro.

No começo, todo surto epidêmico é caótico, diz o especialista em saúde Lawrence Gostin.

"Seria difícil de qualquer forma controlar o vírus, desde o dia 1. Mas, no momento em que fomos informados de que ele era transmissível entre humanos, a vaca já tinha ido para o brejo, o vírus já tinha se espalhado."

"Essa foi uma oportunidade que tivemos (de tentar controlar a disseminação) e que perdemos", acrescenta.

Para o virologista que pesquisa morcegos Wang Linfa, da Escola de Medicina Duke-Nus, em Cingapura, "antes do dia 20, a China poderia ter feito muito mais". "Depois disso, o resto do mundo deveria estar de fato em estado de alerta e ter combatido melhor o vírus”. Fonte: BBC  News-31 janeiro 2021 - Jane McMullen

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Coronavírus: Situação do Estado de São Paulo até 31 de janeiro de 2021


 Obs: O Estado de São Paulo conclui janeiro com recorde, confirmando um caso novo de COVID-19 a cada nove segundos. A média mostra a aceleração da doença em comparação ao pico da primeira onda da pandemia, em agosto de 2020, quando uma nova infecção era confirmada a cada 11 segundos.